José Comblin: revolucionário pelo Evangelho de Jesus Cristo
por Adailton Maciel Augusto
Na luz infinita encontra-se um dos mestres mais marcantes de meus tempos iniciais de estudante de filosofia e teologia. Belos tempos de Goiânia, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e, depois, São Paulo. Antes de conhecer Comblin, pessoalmente, fui iniciado por Hugo Paiva (in memorian), Gilberto Gorgulho, Ana Flora Anderson e o ilustre amigo Domingos Zamagna. Todos, mestres marcantes.
Falo do teólogo-pedagogo José Comblin. Amável, duro, silencioso e criterioso. Adjetivações simplórias para falar da riqueza desse bispo (compreendido aqui na linha dos dirigentes das sete igrejas do Apocalipse). Homem herdeiro da tradição patriarcal de Abraão, Isaac e Jacó. Dos reis, profetas e , nitidamente, Jesus de Nazaré.
Conhecedor profundo das escrituras. Enamorado do sentido original do Salmo 72 que apresenta o sentido primeiro da expressão rei-reino. Aliás, aquela que sustentava a reflexão de um epíscopo. Teólogo por excelência. Aliás, o teólogo consistente é o que cria e recria. A história do cristianismo e das religiões, como um todo, nos ensina isso. Para a tradição cristã, vide o legado de Santo Agostinho e de Tomás de Aquino: teologia produzida nas entranhas de seus tempos.
José Comblin, gente do povo. Herdeiro de padres vindos da Europa para preparar nossas almas contra o adversário satânico do “comunismo”. O próprio Comblin sugere isso. Estamos nos tempos de Pio XII. O Espírito Santo liberta esse homem de visões herméticas e infelizes sobre nossas realidades. Ele supera o provincianismo eurocêntrico-burguês e vê o belo onde só a aparência lembra o feio e o atraso. JOSÉ COMBLIN VIVE!
José Comblin, teólogo militante. Que sugestivo encontrar nos escritos de Comblin as “veias abertas“ (Eduardo Galeano) de seu tempo. Lúcido, conhecedor de história universal (aliás, talvez, o que mais tenha se valido da ciência histórica para fazer teologia séria, na linha dos teólogos e teólogas ligados à sistemática)), teologia clássica, filosofia, antropologia, política, sociologia, sagrada escritura e economia (aqui, discordo de outro mestre que tive o privilégio de entrevistar em sua residência, em Piracicaba, São Paulo, em julho de 1999. Falo de Hugo Assmann, que sugeria Comblin um pouco “manco” no discurso sobre economia. O amigo Assmann talvez , por demais, acadêmico e “duro” naquela fase da vida).
A empiria de Comblin partia de um ponto não comum ao pensamento clássico do saber teológico: a vida e liberdade. A vida como ela se faz. Creio que ele e o querido Eduardo Hoornaert estejam, juntos, na tríade marcante do discurso de Jesus nas parábolas: pão , saúde amor. (Diego Irarrazával em Um Jesus Jovial). A herança teológica de teor palaciana, catedralícia e monacal não era o que alimentava a teologia de Comblin e, sim, o Deus que aparece nas relações micro e macro, gerando e ressuscitando. Comblin não era afeito à herança dos banquetes e vinhos finos da corte de Constantino e Teodósio. Menos ainda da politização da fé em prol de um projeto que não o Reino que tem seus pilares mais sólidos no pós-império sacro-romano-germânico. COMBLIN VIVE!
José Comblin: o escritor do diálogo com o mundo que segue e uma igreja que caduca em certas compreensões. Que facilidade e lucidez. Que pensamento atualizado e lá na frente. Ouvi certa vez num Instituto de Teolgia de São Paulo, que o mestre seria repetitivo sugerindo que o discurso da “opção” pelos empobrecidos se foi. Releguei. Gente jovem, com vida pela frente. A velocidade de Comblin, já lhe permitia sugerir entre 1996 e 1997 os dilemas dos cristãs e cristãs no século XXI. Questões de forte pertinência emergiriam nessa obra. Foi lida? Jovens leigas e leigos sabem do que se trata?Futuros sacerdotes apreciam? Não. Anjos de três, sete e doze asas encantam mais.Ou talvez, vozes belas ou pseudo-belas entoando canções que fazem voar digam.... JOSÉ COMBLIN VIVE!
José Comblin: o profeta. Bem na herança do Antigo Testamento e de Paulo, apaixonado pela comunidade de Filipos , Comblin faz a Grande Travessia com a fé protegida. Combateu o bom combate, Foi fiel, Em tempos de melodias, de autógrafos em casas de show e aglomerações massificantes, entre São Paulo e Rio de Janeiro, esse homem quieto e jovial comove também.JOSÉ COMBLIN VIVE!
Como foi bom sentar a seu lado por duas vezes em Belo Horizonte no Congresso Nacional da Soter (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião) e aprender da melodia de seu silêncio. Prefiro o silêncio e a profecia ao autógrafo. O Profeta que enfrentou a ditadura, as conveniências e críticas dolorosas. JOSÉ COMBLIN VIVE!
José Comblin: a força histórica dos pequenos e a sempre viva utopia. Nosso mestre acredita no que poucos ou somente grupos conscientes e organizados reivindicam. Ele crê no mundo renovado com os pequenos à frente ( indígenas, negras e negros, mulheres,crianças, homessexuais,operários, idosos, excluídos, etc...). Nada mais evangélico. Aliás ele vinha escrevendo sobre essa distinção conceitual e categórica necessária: o que é evangelho e o que seria religião. Com Comblin, lembro de nosso querido Betinho no sétimo intereclesial de Ceb’s em Duque de Caixas(1989) que sugeria a vontade social precursora da vontade política. Comblin foi assim. Imaginem comigo, os dois, agora, no tempo do Criador, cantando junto dos anjos o “Glória dos Pobres” de nosso Reginaldo Veloso. JOSÉ COMBLIN VIVE!
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