MISERICORDIAE VULTUS ( O Rosto da Misericórdia) Papa Francisco
Diocese de Nova Iguaçu - Rio de Janeiro -Brasil
03 de novembro de 2015
Prof. Dr. Adailton Maciel Augusto
“Paixão é cega. Amor fecha os olhos”
Luiz Vieira
“Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia”
João Guimarães Rosa
“Digo: o real não está na saída nem na chegada. Ele se
dispõe para a gente é no meio da travessia”
João Guimarães Rosa
Bula de proclamação do Jubileu extraordinário da misericórdia
Início em
08 de dezembro de 2015. Solenidade da Imaculada Conceição.
Encerramento
do Ano
Jubilar em 20 de novembro de 2016. Solenidade litúrgica de Jesus Cristo,
Rei do Universo.
Iluminação:
Êxodo
34,6
Raiz da
palavra “misericórdia”: raiz hebraica
querido, amado. Para a tradição ninguém ama sem ser misericordioso.
Aproximação
com a gravidez. O útero, órgão que
abriga o embrião desde a sua concepção até o nascimento é chamado de Rechem. O
milagre da concepção e proteção do embrião é definido em termos de
misericórdia.
Fundamento primeiro:
A terra,
o chão e tempo do documento: Sitz im
leben(contexto vital) e weltanschauung(concepção
de mundo: individual e social)
O
contexto contemporâneo entre a era das revoluções, a era do capital e o
princípio da “liquidez”.
A questão básica e marcante da Bula:
Jesus
Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Deus vem a nosso encontro. Jesus de
Nazaré revela a misericórdia de Deus.
Carta aos
Efésios cap. 2,4
Êxodo
34,6
Paulo aos
Gálatas 4,4
Evangelho
de João 14,9
Uma
teologia prática da Revelação: entre o Antigo e o Novo Testamento. Condensada
com aspectos da Tradição e Magistério da Igreja.
***O agir
de deus desde os primórdios da história: o amor é ilimitado. A encarnação
através de Maria é a expressão do reencontro. ( Carta aos Efésios cap. 1,4).
***
Momento de graça e renovação espiritual
Motivações para datas
de abertura e fechamento:
Abertura
- 8 de dezembro de 2015: festa da Imaculada Conceição e conclusão do Vaticano
II.
Fechamento:
20 de novembro de 2016. Festa de Jesus Cristo, Rei do Universo.
A.
Fundamentação teórica:
Antigo Testamento: Deus “paciente e misericordioso”.
Alusão a Santo Tomás de Aquino por parte de Francisco: misericórdia não como
fraqueza , mas onipotência de nosso Deus.
Salmo
103/102, 3-4
Salmo
146/145, 7-9
Salmo
147/146, 3.6
Salmo 136
Novo Testamento e a
revelação em Jesus do “Deus Amor”
Evangelho
de Mateus 26,30
1 João 4,
8.16
Evangelho
de Mateus cap. 9,36.
Evangelho
de Mateus cap. 14, 14.
Evangelho
de Mateus cap. 15,37
Evangelho
de Lucas cap. 7, 15
Evangelho
de Marcos cap. 5, 19.
Evangelho
de Lucas 15, 1-32.
Evangelho
de Mateus 18, 22.
Evangelho
de Mateus 18,33.
Evangelho
de Mateus 18,35
Carta aos
Efésios 4,26
Evangelho
de Mateus 5,7
Evangelho
de Lucas cap. 6,36
Evangelho
de Lucas 6, 27.
O método para viabilizar a compreensão estaria bem delineado nas
parábolas de Jesus.
B.
A questão prática
***O gesto e o “movimento” de peregrinação
Etapas da
peregrinação:
1.
Não julgueis e não
sereis julgados;
2.
Não condeneis e não
sereis condenados
3.
Perdoai e sereis
perdoados
***Considerando o
lema do Ano Santo: “Misericordiosos como o Pai”, que a oração diária da Igreja
comece com essas palavras: “Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor socorrei-nos e
salvai-nos” (Salmo 70/69,2).
***Abrir
o coração para aqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais.
Aprofundando, aqui, os dramas do mundo contemporâneo. A realidade como ela se
mostra.
Neste
Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem
nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo
contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e
sofrimento presentes no mundo actual! Quantas feridas gravadas na carne de
muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por
causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á
chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da
consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a
atenção devidas. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na
habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no
cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as
feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos
desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos
e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e
da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a
barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a
hipocrisia e o egoísmo.
C.Fontes para compreensão e atitudes:
1.Gerais:
Zygmunt Bauman
Manuel Castells
Domenico de Masi
Thomas Piketty : “ O Capital no Século XXI”. Editora Intrínseca.
Milton Santos
Maria Lúcia Santaella: “Culturas e artes do pós-humano”. Paulus.
Luiz Alberto Gomez de Souza
2.Teologia e Pastoral:
Papa Francisco:
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium
e Encíclica Laudato Si (“Louvado Sejas”: Sobre o Cuidado da
Casa Comum)
Yves Congar
Karl Rahner
Paul Tillich
Juan Luis Segundo
Edward Schillebbeckx
João Batista Libânio
Jon Sobrino
Benedito Ferraro
Mario França Miranda
Alfonso Garcia Rubio
Hans Kung
Leonardo Boff
Jacques Dupuis
Irmã Ivone Gebara
José Comblin
José Trasferetti
***Refletir
e agir considerando as obras de
misericórdia corporal e espiritual. Os pobres são os privilegiados da
misericórdia divina.
***Importante
ressaltar o aspecto marcante de nosso “julgamento” (KRISIS= discernimeto): Mt
25.
***Que o
anúncio-denúncia, o profetismo, seja feito e vivido com alegria. (EVANGELII
GAUDIUM). Rever a passagem do Evangelho de Lucas , capítulo 4, tendo como base
o profeta Isaías 61,1-2.
Carta de
Paulo aos Romanos 12,8: “Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria”.
D.*** Momento de destaque: o tempo quaresmal.
Que a
Quaresma do Ano Jubilar seja para celebrar e experimentar a misericórdia de
Deus.
Fontes:
Profeta
Miquéias cap. 7, 18-19.
Profeta Isaías
cap. 58, 6-11.
Paulo aos
Romanos cap. 11, 32.
Carta aos
Hebreus 2,17.
Carta aos
Hebreus 4,16.
Evangelho
de Mateus cap. 9,13.
Profeta
Oséias cap. 6,6.
Carta de
Paulo aos Filipenses cap. 6,13.
Carta de
Paulo aos Gálatas cap. 2, 16.
Salmo
51/50, 11-16.
Profeta
Oséias cap.11,5.
Profeta
Oséias cap. 11,8-9.
Paulo aos
Romanos cap. 10,4.
Evangelho
de Mateus cap. 5,48.
Apocalipse
cap. 7,4.
Evangelho
de Lucas cap. 1, 50 ( Cântico de Maria)
Salmo
25/24,6.
Aplicações práticas:
1.
24 horas para o
Senhor :
A iniciativa « 24 horas para o Senhor », que será celebrada na sexta-feira e no
sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas
dioceses. Há muitas pessoas – e, em grande número, jovens – que estão a
aproximar-se do sacramento da Reconciliação e que frequentemente, nesta
experiência, reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de
intensa oração e redescobrir o sentido da sua vida. Com convicção, ponhamos
novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar
sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de
verdadeira paz interior.
Não me cansarei jamais de insistir com
os confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser
confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por
nos fazer penitentes em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor
significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da
continuidade de um amor divino que perdoa e salva. Cada um de nós recebeu o dom
do Espírito Santo para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. Nenhum
de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de
Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola
do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter
dissipado os bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho
arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por o ter
reencontrado. Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que
ficou fora incapaz de se alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo
é injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites. Não
hão-de fazer perguntas impertinentes, mas como o pai da parábola interromperão
o discurso preparado pelo filho pródigo, porque saberão individuar, no coração
de cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido de perdão. Em suma, os
confessores são chamados a ser sempre e por todo o lado, em cada situação e
apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia.
2. Enviar os Missionários da Misericórdia.
Na Quaresma deste Ano
Santo, é minha intenção enviar os Missionários da Misericórdia. Serão
um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre em
profundidade na riqueza deste mistério tão fundamental para a fé. Serão
sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé
Apostólica, para que se torne evidente a amplitude do seu mandato. Serão
sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura
do seu perdão. Serão missionários da misericórdia, porque se farão, junto de
todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de
responsabilidade para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Baptismo.
Na sua missão, deixar-se-ão guiar pelas palavras do Apóstolo: « Deus encerrou a
todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia » (Rm 11,
32). Na verdade todos, sem excluir ninguém, estão chamados a acolher o apelo à
misericórdia. Os missionários vivam esta chamada, sabendo que podem fixar o
olhar em Jesus, « Sumo Sacerdote misericordioso e fiel » (Hb 2,
17).
Um pedido é feito aos bispos em particular: que organizem nas dioceses
“missões populares”. Ir ao encontro do povo para que os mesmos reencontrem a
casa paterna.
Que nos acheguemos das pessoas que estão longe da casa paterna por uma
conduta de vida tida como “criminosa” ou não bem aceita pelo corpo social. Aqui
uma dura crítica à “idolatria do mercado” e suas consequências sociais e
individuais. A violência aparece e uma direta sugestão do quanto o “ter”, o
“possuir” pode conduzir-nos a atitudes extremas de violência e sacrifício. ( Importante aqui conhecer as teses de René Girard, Hugo Assmann, Franz
Hinkelammert e Gilberto Gorgulho). Também pessoas afeitas a atitudes corruptas
ou cúmplices de corrupção são sujeitos de nossa busca. Não condenação ou
meramente juízo de valor.
O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices de
corrupção. Esta praga putrefacta da sociedade é um pecado grave que brada aos
céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção
impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e
avidez, destrói os projectos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que
se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos.
A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a
ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela
suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com
razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune
desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e social são necessárias
prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da
denúncia. Se não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos
cúmplices e destrói-nos a vida.
****Uma
alusão ao sentido real e pertinente do bem viver e felicidade: a relação
essencial-acessório.
Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo
de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o
momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da
dignidade, dos afectos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte
apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa
de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os
meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conversão e
submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia.
Neste contexto, não será inútil recordar a relação entre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos
em contraste entre si, mas duas dimensões duma única realidade que se desenvolve
gradualmente até atingir o seu clímax na plenitude do amor. A justiça é um
conceito fundamental para a sociedade civil, normalmente quando se faz
referimento a uma ordem jurídica através da qual se aplica a lei. Por justiça
entende-se também que a cada um deve ser dado o que lhe é devido. Na
Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina, e a Deus como juiz.
Habitualmente é entendida como a observância integral da Lei e o comportamento
de todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados por Deus. Esta visão, porém,
levou não poucas vezes a cair no legalismo, mistificando o sentido original e
obscurecendo o valor profundo que a justiça possui. Para superar a perspectiva
legalista, seria preciso
lembrar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um
abandonar-se confiante à vontade de Deus.
Por sua vez, Jesus fala mais vezes da importância da fé que da
observância da lei. É neste sentido que devemos compreender as suas palavras,
quando, encontrando-Se à mesa com Mateus e outros publicanos e pecadores, disse
aos fariseus que O acusavam por isso mesmo: « Ide aprender o que significa: Prefiro
a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os
pecadores » (Mt 9, 13). Diante da visão duma justiça
como mera observância da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e
pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os
pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus,
por causa desta sua visão tão libertadora e fonte de renovação, tenha sido
rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei. Estes, para ser fiéis à lei,
limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém a
misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei não pode obstaculizar a
atenção às necessidades que afectam a dignidade das pessoas.
*** O
Jubileu inclui também uma referência à indulgência. Esta, no Ano Santo da
Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para os
nossos pecados não conhece limites.
*** Que a
Misericórdia ultrapasse as fronteiras da Igreja confessional, institucional.
Misericórdia que é concebido pela tradição
judaica e islâmica um dos atributos mais marcantes de Deus.
*** Que
se favoreça o encontro com essas religiões e outras religiões. Que o Ano
Jubilar nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e
compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse
todas as formas de violência e discriminação.
***
Maria, Mãe de Jesus e João testemunham a misericórdia ao pé da cruz. O gesto de
Jesus.
*** A
antiga e sempre nova oração da Salve Rainha é citada como peça fundamental na
intercessão de Maria.
*** Que nossa oração envolva santos, beatos e beatas. De modo particular
é citada Santa Faustina Kowalska (abençoada,
afortunada) (apóstola da misericórdia).
Enfim:
***Nossa
Igreja é chamada a ser testemunha da misericórdia, processando-a e vivendo como
centro da Revelação de Cristo. Nosso contexto, nosso momento atual é de grandes
esperanças e fortes contradições.