domingo, 8 de novembro de 2015

Bula Papal "Misericordiae Vultus": roteiro e síntese

MISERICORDIAE VULTUS ( O Rosto da Misericórdia) Papa Francisco

Diocese de Nova Iguaçu - Rio de Janeiro -Brasil
03 de novembro de 2015

Prof. Dr. Adailton Maciel Augusto

“Paixão é cega. Amor fecha os olhos”
Luiz Vieira
“Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia”
João Guimarães Rosa
“Digo: o real não está na saída nem na chegada. Ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”
João Guimarães Rosa

Bula de proclamação do Jubileu extraordinário da misericórdia
Início em 08 de dezembro de 2015. Solenidade da Imaculada Conceição.
Encerramento do  Ano  Jubilar em 20 de novembro de 2016. Solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo.
Iluminação:
Êxodo 34,6
Raiz da palavra “misericórdia”: raiz hebraica
querido, amado. Para a tradição  ninguém ama sem ser misericordioso.
Aproximação com a gravidez. O útero, órgão que abriga o embrião desde a sua concepção até o nascimento é chamado de Rechem. O milagre da concepção e proteção do embrião é definido em termos de misericórdia.

Fundamento primeiro:
A terra, o chão e tempo do documento: Sitz im leben(contexto vital) e weltanschauung(concepção de mundo: individual e social)
O contexto contemporâneo entre a era das revoluções, a era do capital e o princípio da “liquidez”.

A questão básica e marcante da Bula:
Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Deus vem a nosso encontro. Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.
Carta aos Efésios  cap. 2,4
Êxodo 34,6
Paulo aos Gálatas 4,4
Evangelho de João 14,9
Uma teologia prática da Revelação: entre o Antigo e o Novo Testamento. Condensada com aspectos da Tradição e Magistério da Igreja.
***O agir de deus desde os primórdios da história: o amor é ilimitado. A encarnação através de Maria é a expressão do reencontro. ( Carta aos Efésios cap. 1,4).
*** Momento de graça e renovação espiritual

Motivações para datas de abertura e fechamento:
Abertura - 8 de dezembro de 2015: festa da Imaculada Conceição e conclusão do Vaticano II.
Fechamento: 20 de novembro de 2016. Festa de Jesus Cristo, Rei do Universo.


A.    Fundamentação teórica:
Antigo Testamento: Deus “paciente e misericordioso”. Alusão a Santo Tomás de Aquino por parte de Francisco: misericórdia não como fraqueza , mas onipotência de nosso Deus.
Salmo 103/102, 3-4
Salmo 146/145, 7-9
Salmo 147/146, 3.6
Salmo 136

Novo Testamento e a revelação em Jesus do “Deus Amor”
Evangelho de Mateus 26,30
1 João 4, 8.16
Evangelho de Mateus cap. 9,36.
Evangelho de Mateus cap. 14, 14.
Evangelho de Mateus cap. 15,37
Evangelho de Lucas cap. 7, 15
Evangelho de Marcos cap. 5, 19.
Evangelho de Lucas 15, 1-32.
Evangelho de Mateus 18, 22.
Evangelho de Mateus 18,33.
Evangelho de Mateus 18,35
Carta aos Efésios 4,26
Evangelho de Mateus 5,7
Evangelho de Lucas cap. 6,36
Evangelho de Lucas 6, 27.
O método para viabilizar a compreensão estaria bem delineado nas parábolas de Jesus.

B.  A questão prática
***O gesto e o “movimento” de peregrinação
Etapas da peregrinação:
1.     Não julgueis e não sereis julgados;
2.     Não condeneis e não sereis condenados
3.     Perdoai e sereis perdoados

***Considerando o lema do Ano Santo: “Misericordiosos como o Pai”, que a oração diária da Igreja comece com essas palavras: “Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor socorrei-nos e salvai-nos” (Salmo 70/69,2).

***Abrir o coração para aqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais. Aprofundando, aqui, os dramas do mundo contemporâneo. A realidade como ela se mostra.
 Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo actual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo.


C.Fontes para compreensão e atitudes:
1.Gerais:
Zygmunt Bauman
Manuel Castells
Domenico de Masi
Thomas Piketty : “ O Capital no Século XXI”. Editora Intrínseca.
Milton Santos
Maria Lúcia Santaella: “Culturas e artes do pós-humano”. Paulus.
Luiz Alberto Gomez de Souza

2.Teologia e Pastoral:                                                                                
Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium e Encíclica Laudato Si (“Louvado Sejas”: Sobre o Cuidado da Casa Comum)
Yves Congar
Karl Rahner
Paul Tillich
Juan Luis Segundo
Edward Schillebbeckx
João Batista Libânio
Jon Sobrino
Benedito Ferraro
Mario França Miranda
Alfonso Garcia Rubio
Hans Kung
Leonardo Boff
Jacques Dupuis
Irmã Ivone Gebara
José Comblin
José Trasferetti


***Refletir e agir considerando as obras de misericórdia corporal e espiritual. Os pobres são os privilegiados da misericórdia divina.

***Importante ressaltar o aspecto marcante de nosso “julgamento” (KRISIS= discernimeto): Mt 25.
***Que o anúncio-denúncia, o profetismo, seja feito e vivido com alegria. (EVANGELII GAUDIUM). Rever a passagem do Evangelho de Lucas , capítulo 4, tendo como base o profeta Isaías 61,1-2.
Carta de Paulo aos Romanos 12,8: “Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria”.
D.*** Momento de destaque: o tempo quaresmal.
Que a Quaresma do Ano Jubilar seja para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus.
Fontes:
Profeta Miquéias cap. 7, 18-19.
Profeta Isaías cap. 58, 6-11.
Paulo aos Romanos cap. 11, 32.
Carta aos Hebreus 2,17.
Carta aos Hebreus 4,16.
Evangelho de Mateus cap. 9,13.
Profeta Oséias cap. 6,6.
Carta de Paulo aos Filipenses cap. 6,13.
Carta de Paulo aos Gálatas cap. 2, 16.
Salmo 51/50, 11-16.
Profeta Oséias cap.11,5.
Profeta Oséias cap. 11,8-9.
Paulo aos Romanos cap. 10,4.
Evangelho de Mateus   cap. 5,48.
Apocalipse cap. 7,4.
Evangelho de Lucas cap. 1, 50 ( Cântico de Maria)
Salmo 25/24,6.

Aplicações práticas:
1.      24 horas para o Senhor :
A iniciativa « 24 horas para o Senhor », que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses. Há muitas pessoas – e, em grande número, jovens – que estão a aproximar-se do sacramento da Reconciliação e que frequentemente, nesta experiência, reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração e redescobrir o sentido da sua vida. Com convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior.
Não me cansarei jamais de insistir com os confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva. Cada um de nós recebeu o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. Nenhum de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por o ter reencontrado. Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que ficou fora incapaz de se alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites. Não hão-de fazer perguntas impertinentes, mas como o pai da parábola interromperão o discurso preparado pelo filho pródigo, porque saberão individuar, no coração de cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido de perdão. Em suma, os confessores são chamados a ser sempre e por todo o lado, em cada situação e apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia.
2.      Enviar os Missionários da Misericórdia.
Na Quaresma deste Ano Santo, é minha intenção enviar os Missionários da Misericórdia. Serão um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre em profundidade na riqueza deste mistério tão fundamental para a fé. Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne evidente a amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da misericórdia, porque se farão, junto de todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de responsabilidade para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Baptismo. Na sua missão, deixar-se-ão guiar pelas palavras do Apóstolo: « Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia » (Rm 11, 32). Na verdade todos, sem excluir ninguém, estão chamados a acolher o apelo à misericórdia. Os missionários vivam esta chamada, sabendo que podem fixar o olhar em Jesus, « Sumo Sacerdote misericordioso e fiel » (Hb 2, 17).
                                                                                                            
Um pedido é feito aos bispos em particular: que organizem nas dioceses “missões populares”. Ir ao encontro do povo para que os mesmos reencontrem a casa paterna.
Que nos acheguemos das pessoas que estão longe da casa paterna por uma conduta de vida tida como “criminosa” ou não bem aceita pelo corpo social. Aqui uma dura crítica à “idolatria do mercado” e suas consequências sociais e individuais. A violência aparece e uma direta sugestão do quanto o “ter”, o “possuir” pode conduzir-nos a atitudes extremas de violência e sacrifício.  ( Importante aqui conhecer as teses  de René Girard, Hugo Assmann, Franz Hinkelammert e Gilberto Gorgulho). Também pessoas afeitas a atitudes corruptas ou cúmplices de corrupção são sujeitos de nossa busca. Não condenação ou meramente juízo de valor.

O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga putrefacta da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projectos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida.

****Uma alusão ao sentido real e pertinente do bem viver e felicidade: a relação essencial-acessório.
Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afectos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia.
Neste contexto, não será inútil recordar a relação entre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões duma única realidade que se desenvolve gradualmente até atingir o seu clímax na plenitude do amor. A justiça é um conceito fundamental para a sociedade civil, normalmente quando se faz referimento a uma ordem jurídica através da qual se aplica a lei. Por justiça entende-se também que a cada um deve ser dado o que lhe é devido. Na Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina, e a Deus como juiz. Habitualmente é entendida como a observância integral da Lei e o comportamento de todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados por Deus. Esta visão, porém, levou não poucas vezes a cair no legalismo, mistificando o sentido original e obscurecendo o valor profundo que a justiça possui. Para superar a perspectiva legalista, seria preciso lembrar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um abandonar-se confiante à vontade de Deus.
Por sua vez, Jesus fala mais vezes da importância da fé que da observância da lei. É neste sentido que devemos compreender as suas palavras, quando, encontrando-Se à mesa com Mateus e outros publicanos e pecadores, disse aos fariseus que O acusavam por isso mesmo: « Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores » (Mt 9, 13). Diante da visão duma justiça como mera observância da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus, por causa desta sua visão tão libertadora e fonte de renovação, tenha sido rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei. Estes, para ser fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém a misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei não pode obstaculizar a atenção às necessidades que afectam a dignidade das pessoas.
*** O Jubileu inclui também uma referência à indulgência. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites.
*** Que a Misericórdia ultrapasse as fronteiras da Igreja confessional, institucional. Misericórdia que é concebido pela tradição judaica e islâmica um dos atributos mais marcantes de Deus.
*** Que se favoreça o encontro com essas religiões e outras religiões. Que o Ano Jubilar nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação.
*** Maria, Mãe de Jesus e João testemunham a misericórdia ao pé da cruz. O gesto de Jesus.
*** A antiga e sempre nova oração da Salve Rainha é citada como peça fundamental na intercessão de Maria.
*** Que nossa oração envolva santos, beatos e beatas. De modo particular é citada Santa Faustina Kowalska (abençoada, afortunada) (apóstola da misericórdia).

Enfim:

***Nossa Igreja é chamada a ser testemunha da misericórdia, processando-a e vivendo como centro da Revelação de Cristo. Nosso contexto, nosso momento atual é de grandes esperanças e fortes contradições. 

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